Breno Lerner*
Por volta das 22h, quando adentrava o salão, D. Pedro II tropeçou e, ironicamente comentou: “O Imperador tropeçou, a Monarquia não caiu”. Seis dias depois era proclamada a República...
2.000 convites foram enviados para uma homenagem aos oficiais do couraçado chileno Almirante Cochrane, quando na realidade todos sabiam que se ia comemorar as bodas de prata da princesa Isabel e o Conde D’Eu.
2.000 convites foram enviados para uma homenagem aos oficiais do couraçado chileno Almirante Cochrane, quando na realidade todos sabiam que se ia comemorar as bodas de prata da princesa Isabel e o Conde D’Eu.
Três semanas antes da festa, não se encontrava um único traje de festa nas lojas do Rio. Cabeleireiros foram marcados com semanas de antecedência e, aquelas convidadas que só conseguiram horário 1 ou 2 dias antes chegaram a ficar sem dormir ou tomar banho para não desmanchar o penteado.
As roupas das mulheres foram adquiridas nas lojas sofisticadas da Rua do Ouvidor, no centro do Rio. Os cabelos, penteados por cabeleireiros franceses da Casa A Dama Elegante, no mesmo endereço.
Apenas os homens da Corte e os militares tiveram acesso aos barbeiros especializados em cortar bigodes à Titlé (garoto esperto), Chicard (chique), Grognards (soldados da Guarda Napoleônica) e Rostillon (cocheiro de carruagens de gala).
A Confeitaria Paschoal, que servia a Família Real, ficou com a metade da verba de 100.000 contos de réis que seria destinada aos flagelados da seca no Ceará. Foram contratados 150 garçons, 48 cozinheiros, 60 ajudantes e mais de 200 serviçais de limpeza. Na decoração foram utilizados 24 pavões empalhados, que decoravam os cantos das mesas, gigantescos candelabros de prata e muitas flores. Abaixo a lista dos ingredientes entregues na Ilha: 3 mil sopas de 22 qualidades; 50 peixes grandes; 800 lagostas; 800 kg de camarão; 500 tigelas de ostras; 100 latas de salmão; 3000 latas de ervilhas; 1200 latas de aspargos; 400 saladas diferentes; 200 maioneses; 800 latas de trufas; 12 mil frituras; 3500 peças de caça miúda; 1500 costeletas de carneiro; 1300 frangos; 250 galinhas; 500 perus; 800 inhambus; 50 macucos; 300 presuntos; 64 faisões; 80 marrecos; 12 cabritos; 600 gelatinas; 300 pudins; 800 pratos de pastelaria; 400 doces de fios de ovos; 20 mil sanduíches diversos; 14 mil sorvetes; 50 mil quilos de frutas; 10 mil litros de cerveja; 188 caixas de vinhos diversos; 80 caixas de champanhe; 10 caixas de vermute francês e italiano; 16 caixas de licores e conhaques; 100 caixas de água mineral.
O Ministro das Relações Exteriores, o Visconde de Cabo Frio, ao tomar conhecimento que havia perus no cardápio, ficou preocupado com o que pensaria a comitiva do governo peruano que estava presente. Mandou então que escondessem as aves no porão e que não fossem servidas.
As estimativas de convidados presentes variam de 3.500 a 5.000 e os jornais da época ficaram escandalizados com o comportamento dos convidados. Duas orquestras completas tocavam na Ilha mais uma orquestra tocando a bordo do Almirante Cochrane e a Banda da Força Militar tocando polcas e lundus no cais, para o povão. Os cartões de dança das mulheres, que foram encontrados na Ilha Fiscal após o baile, junto com ligas e espartilhos, revelam que a piéce de resistance foi uma seqüência alternante em três tempos: fantasia, valsa, minuano, valsa, fantasia, valsa.
As danças só começaram às 23h, depois que a princesa Isabel e seu marido, o Conde D’Eu chegaram. Mas a confusão começou quando descobriram que havia gente demais e um só banheiro para toda aquela multidão. Os cavalheiros não se intimidaram e usaram a beira do cais, mas as mulheres tiveram que esperar os criados que foram mandados as pressas ao continente, providenciar baldes para serem colocados por baixo dos vestidos.
A meia-noite soaram os trompetes indicando que a mesa estava posta. Mas o comportamento dos convidados deixava muito a desejar e a Família Real se viu obrigada a deixar a festa logo após a sobremesa. D. Pedro nunca escondeu que sua preferência era a canja que lhe era servida nas três refeições diárias. Muito provavelmente terá chegado no Palácio e aí sorvido sua amada canja.
O baile estendeu-se até as 6 da manhã, quando a equipe de limpeza começou a trabalhar. De acordo com o relatório do encarregado foram encontrados entre garrafas, copos e pratos quebrados: 37 lenços, 24 cartolas, 8 corpetes, 3 coletes de senhoras e 17 ligas. Por motivos não explicados, todas as fotos (D. Pedro era um entusiasta da fotografia) feitas no baile desapareceram.
Para finalizar, a receita da canja que provavelmente D. Pedro II tomou após o baile, simples como ele:
Assada uma galinha, assa-se o fígado dela, o qual depois de pisado deite-se em uma pequena (tigela) de mostarda já preparada e logo que tiverem derretido meio arrátel (1 arrátel = 460g) de toucinho e limpo dos torresmos, frijam-se nela duas cebolas picadas, e na mesma sertã (caçarola), lhe deitarão a mostarda misturada com o fígado, para que tudo se torne a frigir. Tempere-se com pimenta, cravo, noz moscada e cardamomo, de sorte que fique bem picante.
Deite-se caldo e arroz cozido. Pronta esta potagem (sopa), põe-se a galinha assada em pedaços no prato com a potagem e sumo de limão por cima.
Esta é a receita original de Domingos Rodrigues, que foi o cozinheiro da avó de D. Pedro, em Lisboa.
Aqui no Brasil, até por preferência do Imperador, a galinha era substituída pelo macuco, muito abundante na época.
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