Doce de Cajú de Ipioca
O Doce de Caju constitui-se no produto final de uma extensa rede de relações da cultura imaterial característica da região do litoral alagoano e que é, portanto, passível, de ser inserido no livro de Registro do Patrimônio Cultural Imaterial de Alagoas.
Os doces fazem parte da memória dos alagoanos, integrando sua história desde os tempos coloniais.
Embora tenha surgido como herança dos colonizadores portugueses, em Alagoas o hábito de fazer doces foi favorecido pela fartura das frutas tropicais e do açúcar abundante nos engenhos, grande estímulo para a criação das saborosas iguarias que hoje compõem o cardápio tradicional das famílias.
O antigo povoado de Ipioca tem sua origem ligada ao processo de ocupação das terras litorâneas da região Norte do Estado e sua igrejinha secular, dedicada a Nossa Senhora do Ó, remonta ao século XVIII.
Aos poucos o núcleo urbano se avoluma, ocupando os morros, criando ruas e vielas sinuosas, marcadas pelo casario singelo.
A cultura do açúcar, através dos engenhos, e do algodão, através de fábricas têxteis, foi marcante na região e beneficiou Ipioca, cuja dinâmica econômica dependia da mesma, ao gerar emprego e renda para a população.
Com a decadência de tais produções, as pessoas buscaram explorar outros tipos de atividades, dirigindo seus esforços para a cultura do coco e a piscicultura.
Diante da grande quantidade de cajueiros existentes naquela área, as mulheres desenvolveram o doce de caju artesanal, tornando-o uma atração local para moradores da região e turistas.
Segundo informações orais, a fatura desse quitute remonta a cerca de 100 anos atrás e as pessoas mais antigas dizem ter aprendido com as avós. Algumas famílias de baixa renda, moradoras de Ipioca mantém viva a memória dos seus antepassados através da preservação da tradição.
Em volta da atividade se congregam não apenas as mulheres, mas, também, maridos, dispostos a participar do processo e garantir auxílio para a sobrevivência material do grupo familiar.
A safra de caju ocorre entre os meses de outubro e dezembro e nessa época se dá a coleta dos frutos, os quais são lavados, furados, espremidos e separados de acordo com o tipo de doce que vai ser feito.
O modo de fazer é artesanal, com utensílios simples como tachos de cobre ou de alumínio, colheres de pau, peneiras de palha vegetal (urupemas) e fogão a lenha.
O caju se oferece a várias formas de fazer o doce: em calda, cristalizado e do tipo ameixa. Além disso, é aproveitada, também, a sua castanha que, caramelizada com açúcar, se transforma em “castanha confeitada”.
Tal variedade é apreciada pelos compradores que se dirigem às bancas improvisadas distribuídas ao longo da estrada AL 101 Norte, nas proximidades de Ipioca. Sobre tabuleiros são colocados os recipientes contendo os doces.
A falta de valorização do produto e o pouco retorno comercial relativo às vendas, não tem atraído os jovens para este tipo de atividade profissional. Como conseqüência, eles não são estimulados a manter a tradição familiar da fabricação dos doces.
Com o Registro, espera-se que sejam tomadas as devidas iniciativas para salvaguarda e repasse do conhecimento junto à população detentora do bem, o povo de Ipioca.
O “saber-fazer” do doce de caju deverá ser preservado, divulgado e valorizado de modo a manter-se na história, não permitindo seu desaparecimento, nem negando às próximas gerações o deleite que o seu sabor proporciona ao paladar.